Adélia Prado, Âncoras / Ancore

Âncoras
Amo o deserto,
mas por causa das cobras
não alcanço o repouso
de sua cama de areia.
O jardineiro inepto
cortou o rebento esplêndido,
é meu braço que corta.
Nada é como quero que seja,
não há aqui um só lugar
que possa chamar de meu,
pareço amar a tristeza,
como o navio aos ferros do seu aprumo.
Lançar âncoras é uma ideia feliz.
Os navios me causam
compaixão e espanto.
Adélia Prado
Ancore
Amo il deserto,
ma per via dei cobra
non mi godo il riposo
del suo letto di sabbia.
Il giardiniere incapace
recise lo splendido germoglio,
è il mio braccio che recide.
Nulla è come voglio che sia,
non c’è qui un solo luogo
che possa definire mio,
sembro amare la tristezza,
come la nave i ferri del suo appiombo.
lanciare ancore è un’idea felice.
le navi mi provocano
compassione e stupore.
Traduzione di Chiara De Luca