Nuno Júdice, Te deum
Te deum
A ti, ó deus, pousado como a coruja
de olhos cegos no tronco ressequido da eternidade;
a ti, que o vento de uma imprecação de profetas
loucos expulsa para a terra poeirenta
do fim, como se ainda pudesses anunciar
um recomeço de jardins e oceanos varridos
pela primeira luz; a ti, de asas envelhecidas
pelo curso das idades, e incapaz de sobrevoar
um campo de galáxias para descobrir o átomo
de um verbo inicial:
vem para dentro do tempo, e faz dele
o templo das tuas indecisões. Sobe ao velho
altar e fala aos crentes que te adoram, repetindo
devagar cada palavra que ouviste das suas
orações. Pedir-te-ão que não os imites, e quando te
aproximares deles voltar-te-ão as costas, a ti,
ó deus alquebrado. Então, dirás para
contigo, então sou um homem! E entrarás
no meio deles, para que te insultem,
a ti, ó deus, que finalmente
encontrarás o teu lugar nas tabernas do mundo,
bebendo o vinho barato dos marinheiros
e comendo o pão esfarelado da ressaca,
enquanto rezas a ti próprio – como
se ainda acreditasses em ti.
Nuno Júdice, Fórmulas de uma Luz Inexplicável, Dom Quixote 2012
Te deum
A te, oh dio, appollaiato come la civetta
dagli occhi ciechi sul tronco disseccato dell’eternità;
a te, che il vento di un’imprecazione di profeti
folli espelle verso la terra polverosa
della fine, come si potesse ancora annunciare
un nuovo principio di giardini e oceani spazzati
dalla luce primigenia; a te, che hai ali invecchiate
dal passare delle ere, e non sei in grado di sorvolare
un campo di galassie per scoprire l’atomo
di un verbo iniziale:
vieni da dentro il tempo e fanne
tempio delle tue titubanze. Sali sul vecchio
altare e parla ai credenti adoranti, ripetendo
lentamente parola per parola le loro
preghiere. Ti chiederanno di non imitarli, e quando ti
avvicinerai ti volteranno le spalle, a te,
il dio distrutto. Allora, dirai fra te
e te, dunque sono un uomo! E andrai
in mezzo a loro, perchè insultino
te, oh Dio, che finalmente
troverai il tuo posto nelle cantine del mondo,
bevendo il vino scadente dei marinai
e mangiando il pane sbriciolato dalla risacca,
mentre pregherai te stesso – come
se ancora credessi in te.
Nuno Júdice, Formule di una luce inspiegabile, in uscita per Edizioni Kolibris